Já
era tarde quando Gaio, ainda em seu leito, abre os olhos. Seu rosto ainda
umedecido pelas lágrimas denunciava as amargas horas que passara sob a terrível
companhia da solidão. O telefonema que recebera na noite anterior, soterrara
sua alma em uma densa e profunda escuridão. Mergulhado em sua penumbra,
observava sem qualquer interesse, a réstia de sol que entrava pelas frestas do
telhado, já cansado pelo tempo. O sol, a propósito, um terrível sol de verão
que abrasava a pequena vila ao pé da montanha. À medida que os minutos
passavam, os seus devaneios se perdiam pensando em como essas coisas aconteceram, e em como elas seriam a
partir daquele triste telefonema. O que
faria agora que estava tudo terminado entre ele e sua amada? Foi o que dissera,
ou o que deixara de falar? As perguntas varriam sua alma, tal qual tempestade
devasta os campos, porém, eram perguntas que pareciam sem resposta, ou pelo
menos tinha medo de conhecer. Em um esforço, levanta-se e observa pela vidraça à
pomposa figueira, com enormes troncos, onde outrora ambos brincaram em um
balanço. Seu olhar perdido alcança a amarelada corda, que estava amarrada em um
dos robustos troncos, onde ele mesmo havia deixado. Caminhando até a figueira,
promete a si mesmo que nunca amaria novamente, já que sua decisão estava
tomada. Subindo por uma velha escada, contempla sua sina, se desfiando, pois
estava ali havia muito tempo. Já com o laço no pescoço, pela última vez olha as
montanhas no horizonte, vê também o riacho cortando o vale, ao longe ouve o
alegre cantar de um canário, porém, nada mais importa, não convém mais viver.
Com o rosto encharcado pelas lágrimas, respirando fundo, olha para o céu, como
se esperasse uma resposta, e com o seu corpo trêmulo, temendo o desconhecido,
solta um pavoroso grito. Tirando a corda do pescoço, desse da árvore aos
prantos. Sim! Ela tinha razão, pensa consigo, eu sou realmente um covarde!
Nenhum comentário:
Postar um comentário