sábado, 17 de setembro de 2011

O DILEMA DE GAIO (TEXTO PESSOAL)



Já era tarde quando Gaio, ainda em seu leito, abre os olhos. Seu rosto ainda umedecido pelas lágrimas denunciava as amargas horas que passara sob a terrível companhia da solidão. O telefonema que recebera na noite anterior, soterrara sua alma em uma densa e profunda escuridão. Mergulhado em sua penumbra, observava sem qualquer interesse, a réstia de sol que entrava pelas frestas do telhado, já cansado pelo tempo. O sol, a propósito, um terrível sol de verão que abrasava a pequena vila ao pé da montanha. À medida que os minutos passavam, os seus devaneios se perdiam pensando em como essas                         coisas aconteceram, e em como elas seriam a partir daquele triste telefonema.  O que faria agora que estava tudo terminado entre ele e sua amada? Foi o que dissera, ou o que deixara de falar? As perguntas varriam sua alma, tal qual tempestade devasta os campos, porém, eram perguntas que pareciam sem resposta, ou pelo menos tinha medo de conhecer. Em um esforço, levanta-se e observa pela vidraça à pomposa figueira, com enormes troncos, onde outrora ambos brincaram em um balanço. Seu olhar perdido alcança a amarelada corda, que estava amarrada em um dos robustos troncos, onde ele mesmo havia deixado. Caminhando até a figueira, promete a si mesmo que nunca amaria novamente, já que sua decisão estava tomada. Subindo por uma velha escada, contempla sua sina, se desfiando, pois estava ali havia muito tempo. Já com o laço no pescoço, pela última vez olha as montanhas no horizonte, vê também o riacho cortando o vale, ao longe ouve o alegre cantar de um canário, porém, nada mais importa, não convém mais viver. Com o rosto encharcado pelas lágrimas, respirando fundo, olha para o céu, como se esperasse uma resposta, e com o seu corpo trêmulo, temendo o desconhecido, solta um pavoroso grito. Tirando a corda do pescoço, desse da árvore aos prantos. Sim! Ela tinha razão, pensa consigo, eu sou realmente um covarde!

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